terça-feira, 7 de novembro de 2023

 CHICO XAVIER E O PISO DE LUXO DO SALÃO DE REUNIÕES PÚBLICAS DA “COMUNHÃO ESPÍRITA CRISTÔ DE UBERABA

No começo da década de 70, com 20 anos de idade, eu era Secretário da “Comunhão Espírita Cristã” de Uberaba – um secretário que não mandava absolutamente nada, mas era. Então, a Diretoria da CEC, sem consultar a Chico, resolveu empreender uma reforma no prédio antigo, que, infelizmente, terminou por demolir completamente. O Chico passou a realizar reuniões numa outra sala, de dimensões um pouco mais amplas, mas não se imiscuía nos assuntos da Diretoria. Quando a reforma estava chegando ao término, a Diretoria, então, resolveu convidar a Chico para que fosse dar uma olhada no salão, que permanecia encoberto por um tapume de madeira. Aí, como Secretário, eu fui também e pude assistir a “bronca” que o inesquecível medianeiro deu na turma toda, que se achava muito orgulhosa do que houvera feito, mesmo após ter demolido um patrimônio histórico da Doutrina, que era o antigo prédio da CEC de Uberaba, erguido no começo dos anos 60. O salão, onde o Chico deveria passar a psicografar e a receber as pessoas, de fato, estava uma beleza: a pintura da parede era ultramoderna, imitando azulejos azuis, e, nas paredes havia três buracos prontos para receberem três condicionadores de ar... No chão, ainda não assentados, o piso muito bonito, quais os pisos mais modernos de hoje, que, na década de 70, ainda não haviam surgido no mercado.
Andando pelo salão, com a turma da Diretoria atrás, inclusive eu, o Chico disse:
- Está tudo muito bonito, mas eu não fico... Se vocês colocarem aqui este piso e os aparelhos de ar condicionado, eu não fico! Vocês fizeram o que quiseram, e não me consultaram em nada!...
- Mas, Chico – tentou argumentar a Presidente da CEC, que, na época, era a Dalva Rodrigues Borges –, não tem nada de tão luxuoso assim...
- Não tem?! – replicou ele, com veemência. – Eu não posso trabalhar num Centro Espírita em que o pobre venha a ter vergonha de entrar... Como é que um doente vai poder pisar aqui?! – disse, apontando para a cerâmica, que seria cimentada no salão. – E se o doente, passando mal, vomitar sobre este piso?! Vocês já imaginaram como ele há de ficar envergonhado?! Não, eu não fico. Se vocês não trocarem o piso e não deixarem de colocar os aparelhos de ar condicionado, eu não fico! Eu vou embora... Estava tudo muito bom como estava! Vocês não me perguntaram nada e agora, depois de tudo quase pronto, vocês vêm me perguntar?! Eu não pedi para vocês fazerem nada disso...
Resultado: debaixo de grande constrangimento, a visita de Chico ao futuro salão se encerrou, o piso foi trocado por um mais barato e os buracos, que estavam preparados para receber os aparelhos de ar condicionado, lá ficaram, como feridas mal cicatrizadas nas paredes.
Eu só sei dizer que, em verdade, o Chico ficou na CEC por mais algum tempo e, depois, não ficou mesmo – foi para o “Grupo Espírita da Prece”, e eu, naturalmente, fui atrás dele.
Mas, esta história a gente conta outro dia.
Por enquanto, quem puder que fique com mais esta lição de Chico Xavier contra esse câncer chamado “elitismo”, que vem acometendo o organismo do Movimento Espírita, no Brasil e no mundo, sob o beneplácito de seus ferrenhos e equivocados defensores.
Carlos A. Baccelli
Uberaba – MG, 5 de novembro de 2017

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